Na última segunda-feira, um estudo publicado no Journal of Experimental Medicine (JEM) revelou uma inovadora abordagem terapêutica para conter o crescimento de tumores metastáticos em camundongos. Essa descoberta tem o potencial de revolucionar o tratamento de diversos tipos de câncer, incluindo o câncer de mama.
De acordo com os pesquisadores, esse novo tratamento tem a capacidade não apenas de prevenir o crescimento dos tumores, mas também de reduzir significativamente as taxas de recorrência, um desafio comum em pacientes com câncer. Esses tumores “secundários” são notoriamente resistentes e frequentemente surgem a partir de células que permanecem em estado de dormência por anos antes de se tornarem ativas novamente.
Quem é o responsável por manter essas células em estado de dormência por tanto tempo? Segundo os especialistas Maria Soledad Sosa e Julio A. Aguirre-Ghiso, a chave para essa dormência é a proteína chamada NR2F1. Os pesquisadores explicam que essa proteína é capaz de regular o processo que controla a proliferação das células cancerosas, podendo ativá-las ou mantê-las inativas.
A descoberta da importância da NR2F1 levou os pesquisadores a criar um novo tratamento. A ideia central é ativar a NR2F1 usando uma pequena molécula, uma estratégia que pode induzir as células cancerosas a entrar em um estado de dormência prolongada, prevenindo assim a recorrência e a formação de tumores metastáticos.
Para testar essa teoria, as equipes de Sosa e Aguirre-Ghiso conduziram uma triagem que levou à identificação de uma droga chamada C26, que é capaz de ativar a NR2F1. Testes realizados em células HNSCC derivadas de pacientes demonstraram que o tratamento com C26 aumentou os níveis de NR2F1 e interrompeu a proliferação celular.
Além disso, o C26 foi testado em camundongos para avaliar sua eficácia na prevenção da metástase. Os resultados revelaram uma redução significativa no tamanho dos tumores primários. Além disso, após cirurgia, o C26 conseguiu bloquear completamente o crescimento de tumores metastáticos.
Em resumo, ao ativar a NR2F1, o C26 induz as células cancerosas a entrar em um estado de dormência de longa duração. Pacientes cujos tumores exibem um padrão genético semelhante tendem a ter períodos mais prolongados sem recorrência de sintomas, o que sugere que a ativação da NR2F1 com drogas semelhantes ao C26 pode ser uma estratégia eficaz em seres humanos.
Os pesquisadores destacam que medicamentos ativadores da NR2F1 podem ser particularmente promissores no tratamento do câncer de mama, uma vez que a NR2F1 é amplamente expressa em tumores receptores de estrogênio. A ativação dessa proteína pode suprimir o ressurgimento de células cancerosas que permaneceram inativas devido a terapias anti-estrogênicas. Em resumo, o estudo oferece uma abordagem baseada em mecanismos e estrategicamente projetada para explorar a dormência induzida pela NR2F1 como uma opção terapêutica para prevenir a recorrência metastática.